sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Polícia cerca acessos do Complexo do Alemão, para onde traficantes fugiram.




O Estado de S. Paulo

RIO - Agentes da Polícia Federal e policiais civis participam nesse momento de um cerco aos acessos do Complexo do Alemão, para onde fugiram cerca de 200 criminosos da Vila Cruzeiro na tarde de ontem. Os agentes revistam kombis e demais veículos que saem da favela em busca de traficantes, armas e drogas.
Tasso Marcelo/AE
Tasso Marcelo/AE
Nesta quinta-feira, Vila Cruzeiro foi ocupada por soldados do Bope e por tanques da Marinha
Um policial militar do 16º batalhão (Olaria) ficou ferido na cabeça durante uma troca de tiros entre agentes federais, PMs e traficantes na entrada da favela da Grota, no Complexo do Alemão, na zona norte do Rio. Os criminosos se encontram se encontram em uma casamata na entrada da favela, a menos de 100 metros de onde estão posicionados os policiais.
Na Vila Cruzeiro, na Penha, dez policiais do Bope junto com outros dez policiais militares estão fazendo na manhã desta sexta-feira, 26, uma varredura na baixa da região, onde as marcas da operação de ontem ainda são visíveis. A polícia está fazendo buscas em residências e também revista transeuntes. Na estrada José Lucas estão as carcaças de três caminhões incendiados.
Em consequência dos ataques, fios de energia elétrica foram queimados, deixando sem luz toda a região e prejudicando os comerciantes que ainda assim resolveram abrir suas portas.
Na Rua Jaques Maritaim, antiga Rua 14, há pelo menos 30 motos abandonadas, que foram apreendidas pela polícia. Na Rua 13, onde os traficantes se abrigavam em seu bunker, há restos de comida, abandonados provavelmente no momento do tiroteio. A polícia encontrou ainda no local "jacarés", que são canos com pedaços pontiagudos de ferro, usados para impedir a aproximação de carros.
Exército. Depois de cinco dias de confrontos no Rio, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva enviou 800 homens do Exército para a cidade, além de mobilizar Aeronáutica e Polícia Federal. Ontem, em operação policial sem precedentes, já com apoio de blindados da Marinha, a polícia ocupou a Vila Cruzeiro, no Complexo da Penha (zona norte do Rio), após 40 horas de intenso tiroteio.
"Não é humanamente possível que 99% das pessoas sejam molestadas por gente que está na marginalidade. Portanto, o Rio pode ficar 100% tranquilo que o governo dará ajuda", disse Lula em Georgetown, capital da Guiana. Segundo ele, um pedido formal de auxílio para uma Operação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) foi feito anteontem pelo governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB).
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O Exército vai garantir a proteção dos perímetros das áreas ocupadas por policiais. Já a Aeronáutica vai enviar dois helicópteros. Ainda serão mandados mais dez blindados das Forças Armadas, além de equipamentos de comunicação e óculos de visão noturna. Pela primeira vez na história, homens da Polícia Federal, pelo menos 300, atuarão no Estado já a partir de hoje.
Pelo menos 35 pessoas já morreram no Rio desde domingo. O número não inclui os mortos de ontem na Vila Cruzeiro, quartel-general do Comando Vermelho - o total não foi revelado pelo governo. Ontem, os ataques continuaram e se espalharam pela cidade, atingindo até o Túnel Rebouças, que liga as zonas norte e sul. Nos cinco dias, pelo menos 61 veículos já foram incendiados.
Vila Cruzeiro. A ocupação na Vila Cruzeiro mobilizou 510 homens entre policiais militares e civis. Setenta fuzileiros navais ajudaram a operar as viaturas blindadas da Marinha, equipadas com metralhadoras .50. Foram elas que permitiram à polícia do Rio entrar na comunidade e ultrapassar barricadas montadas por traficantes. O espaço aéreo chegou a ser fechado pela manhã, para facilitar a invasão. Vários criminosos fugiram para a favela vizinha.
"O que acontece é que há uma rota de fuga difícil de alcançar", explicou o subchefe operacional da Polícia Civil, Rodrigo Oliveira, referindo-se às imagens do helicóptero da TV Globo que mostraram ao vivo a fuga em massa da Vila Cruzeiro para o Complexo do Alemão pela Serra da Misericórdia. As imagens repercutiram na internet e motivaram críticas no Twitter - usado pelo governo para rebater boatos.
Pela manhã, a chegada de seis blindados da Marinha interrompeu o tráfego de veículos na Avenida Brás de Pina, uma das principais da Penha. Segundo a Marinha, foram empregados na operação 6 veículos blindados M-113, 4 carros-lagarta anfíbios e 3 viaturas Piranha, para transporte de tropas. Barulhos de explosões e bombas foram seguidos por colunas de fumaça que emergiam das favelas. As ruas da Vila Cruzeiro ficaram totalmente vazias. "Virou uma guerra civil", resumiu a recepcionista Monique Gama, de 30 anos.
Queixas. O apoio do Exército veio após queixas durante o dia do secretário de Segurança do Rio, José Mariano Beltrame. Ele agradeceu à Marinha por ceder os equipamentos, mas fez uma crítica velada ao Exército. "Não ofereceram nada." Horas depois, os Ministérios da Defesa e da Justiça anunciaram o reforço de Exército e Polícia Federal.
(Marcelo Auler, Pedro Dantas, Márcia Vieira, Gabriela Moreira, Bruno Boghossian, Talita Figueiredo, Roberta Pennafort, Alfredo Junqueira e Clarissa Thomé)


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