segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Apesar de nativa e do apelo afetivo, guavira está sumindo do Cerrado

Liana Feitosa
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Quando recebo visitas eu já falo: cuidado com a guavira, diz dona Lurdes. (Foto: Marcos Ermínio)"Quando recebo visitas eu já falo: cuidado com a guavira", diz dona Lurdes. (Foto: Marcos Ermínio)
Não é por acaso que ela serviu de inspiração à violeira Helena Meirelles ao compor Flor de Guavira. Nativa do Cerrado, a delicada, branca e miúda flor aparece ainda na época de estiagem, anunciando que os frutos da guavira - ou gabiroba - surgirão em breve. Na casa da costureira Maria de Lurdes Brey, de 67 anos, todo cuidado é dedicado ao arbusto.
"Quando recebo visitas eu já falo: cuidado com a guavira, não trate ela de qualquer jeito", conta. Encantada com os frutos e admiradora das flores, dona Maria de Lurdes conta que aprendeu a fazer mudas de guavira para dar aos amigos. "Até fiz muda dela, com a semente. Tem que ter paciência e cuidado porque a muda demora um pouco para ficar madura, mas fiz para um amigo que mora no Paraná e que queria uma planta frutífera típica do Cerrado para cultivar", explica.
São quatro ou cinco pés de gabiroba no quintal, "tem uma porção. Tenho várias porque o fruto é muito saboroso e gosto muito", completa Lurdes. Mas, apesar de nativa, está cada vez mais difícil encontrar guavira por aí, nos quintais e espaços verdes da cidade.
Guavira também é conhecida como gabiroba. (Foto: Arquivo/Campo Grande News)Guavira também é conhecida como gabiroba. (Foto: Arquivo/Campo Grande News)
Passado - A aposentada Agacy dos Santos, de 60 anos, lembra com carinho do tempo em que percorria as ruas da Capital com a mãe e as irmãs em busca das pequenas frutas. "Isso lá pelo final da década de 50. Nós íamos na região do Santo Amaro, perto da reserva do exército, lá existiam muitos pés de guavira. A gente nem trazia pra casa, comíamos ali mesmo", relata. Hoje, Agacy mesma reconhece que está difícil encontrar a planta, "não existem mais tantas como antigamente."
Na estação em que a fruta é produzida, geralmente novembro, indígenas a vendem no centro da cidade, em frente ao Mercadão Municipal, por 10 reais o litro, que é quando uma lata vazia de óleo de cozinha é preenchida com as frutinhas. A procura é muito grande todos os dias, segundo Dionísia Elias, de 62 anos, uma das comerciantes.
Raridade - No entanto, de acordo com o pesquisador Edmilson Volpe, engenheiro agrônomo do Cepaer (Centro de Capacitação e Pesquisa) da Agraer (Agência de Desenvolvimento Agrário e Extensão Rural), a guavira é considerada planta invasora em áreas de pastagem. "Ela faz parte da vegetação do Cerrado, é nativa. Mas quando o produtor vai plantar milho, soja, enfim, o solo é preparado e ela desaparece porque é feita uma limpeza dessas lavouras", contextualiza.
Com a diminuição da oferta da fruta, resultado até mesmo do crescimento das cidades da região, o especialista acredita que a melhor maneira de conservá-la é tornar seu cultivo viável economicamente, tanto para consumo próprio, como para comercialização.
Melhoramento - É por isso que a Agraer desenvolve pesquisas com a planta há cinco anos, justamente para conciliar produção e preservação, segundo o pesquisador. "O solo do Cerrado é, geralmente, fraco, considerado de baixa fertilidade para outras culturas (como soja e milho). É preciso muito investimento em melhoramento de solo para essas produções. Mas a guavira é uma alternativa viável", pontua.
Por causa da alta aceitação e relevância da fruta em Mato Grosso do Sul, Volpe acredita ser fundamental encontrar formas de aprimorar seu aproveitamento e preservação. "Cultivá-la é uma ótima forma de preservá-la", amplia.
Além disso, a gabiroba é considerada uma das 10 frutas mais viáveis do Cerrado. "Percebemos que, se é fácil de comercializar, então é fácil ganhar dinheiro com ela. Mas, para isso, ela precisa ser preservada", alerta.
Florada da guavira vai até meados de outubro. (Foto: Marcelo Victor)Florada da guavira vai até meados de outubro. (Foto: Marcelo Victor)
Graças aos experimentos desenvolvidos pela Agraer, cerca de 10 toneladas de gabiroba estão sendo produzidas por hectare. "Isso em se tratando de experimento científico. Na prática, o rendimento pode chegar à metade, mas do ponto de vista econômico é viável, principalmente para o pequeno produtor", aponta.
Viabilidade - Não é só o apreço popular pela fruta que dá viabilidade à guavira. A versatilidade do alimento também atrai. "Ela tem outras aplicações. É possível fazer mousse, sorvete, licor, além, é claro, do suco. A polpa congelada pode ser vendida a aproximadamente 25 reais o litro. Ou seja, já existe mercado para o produto", considera Volpe.
"Não só do ponto de vista econômico ela é muito promissora, do aspecto nutritivo também. Ela tem alto teor de vitamina C, até mais que a laranja, além de ser uma fonte de energia e minerais", finaliza. A florada da guavira se estende até, frequentemente, outubro para que, em novembro, inicie a produção dos frutos, que ocorre apenas uma vez por ano.
Onde encontrar - Para quem deseja ter exemplares da planta em casa, o viveiro Florescer comercializa mudas. "Atualmente, não temos muitas. Devido aos cuidados complexos que a planta exige, a reprodução não é simples. No entanto, podemos produzir de acordo com a procura", explica uma das proprietárias, Lucilene Bigatão.
O esposo dela, Nereu Rios, mantém o viveiro que produz cerca de 20 mil mudas por ano. Mais informações, sobre valores e a produção, podem ser obtidas pelo site http://www.nereurios.com.br/, onde também é disponibilizado contato com a empresa.
Pesquisador da Agraer acredita que cultivar a guavira é melhor forma de preservá-la.(Foto: Marcelo Victor)Pesquisador da Agraer acredita que cultivar a guavira é melhor forma de preservá-la.(Foto: Marcelo Victor)
Lu Bigatão explica que planta exige cuidados específicos para mudas serem produzidas. (Foto: Marcelo Victor)Lu Bigatão explica que planta exige cuidados específicos para mudas serem produzidas. (Foto: Marcelo Victor)



quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Projeto Guavirando propõe plantio de guavira na Aldeia Amambai

Fonte: Da Redação com informações Abrasel
A guavira também é conhecida como gabiroba.A guavira também é conhecida como gabiroba.
A guavira, fruta sul-mato-grossense que floresce de setembro a novembro e tem a maturação dos frutos de outubro a dezembro, está em época, levando muitas pessoas ao campo, com uma sacolinha na mão, colher a fruta tanto para consumo próprio, quanto para venda.
Também conhecida como gabiroba, é uma palavra de origem guarani, que significa "árvore de casca amarga". Ganhou este nome provavelmente porque os índios faziam uso de suas propriedades medicinais.
Além de sua ação adstringente e antidiarreica, a infusão das folhas em banhos de imersão é relaxante para aliviar dores musculares.
A guavira nasce em um arbusto que varia de 0,20 a 1,50 metros de altura. O fruto por fora lembra uma goiabinha, mas o sabor é totalmente diferente de qualquer outro fruto. Os frutos maduros têm um curto período para serem aproveitados (5 a 7 dias), porque passa do ponto.
Guaviras colhidas pelo amambaiense Aristides Rodrigues Nunes Rodrigues.Guaviras colhidas pelo amambaiense Aristides Rodrigues Nunes Rodrigues.
Risco de extinção
Antigamente a guavira era a planta mais encontrada no cerrado sul-mato-grossense. Era comum encontrá-las na beira da estrada e até mesmo pertinho das residências, em terrenos desabitados. Mas nos últimos cinquenta anos, quase todo o cerrado foi destruído para o plantio de soja, milho e pela limpeza de áreas de pastagem, eliminando a maioria dos guavirais.
Outra preocupação é de que quase não existem plantações comerciais da guavira. Os frutos são colhidos pelas pessoas em grandes quantidades e não há preocupação em replantar as sementes, fora o grande volume consumido pelo gado. Caso não sejam desenvolvidos trabalhos de conscientização e replantio de mudas, a fruta pode ser extinta do cerrado sul-mato-grossense.
Licor de guavira produzido pelo professor Edirler Vieira. Licor de guavira produzido pelo professor Edirler Vieira.
É muito fácil plantar guavira, ela não é exigente quanto ao solo crescendo inclusive em terrenos pobres. Podem ser plantadas em canteiros no seu quintal.
Guavirando
O professor Edirlei Viana Vieira, coordenador na escola Guarani estadual, realiza na aldeia um projeto chamado Guavirando. A intenção do projeto é produzir mudas para o plantio dentro da aldeia, distribuindo para que os alunos plantem em suas casas.
“A fruta está em extinção, nosso objetivo é fazer com que elas não acabem e tenhamos para consumo e venda”, conta ele.
Edirlei utiliza a fruta para fazer licor, sorvete, geladinho e até mesmo picolé e conta que o amambaiense não dá o devido valor ao seu fruto, afirmando que o certo seria cada morador manter uma dessas plantas em casa.
Ismael Morel colhendo guaviras.Ismael Morel colhendo guaviras.
Curiosidades
Já ouviu falar que em época de guavira dá muita cobra? Provavelmente isto acontece porque as frutinhas atraem diversas espécies de pássaros, atraindo por sua vez as cobras que se alimentam de pássaros. Outra lenda dos mais antigos é que isto seria dito por maridos ciumentos para evitar que as mulheres saíssem no mato sozinhas para colher os frutos.
“Certa vez fomos catar guavira em uma área militar aqui de Amambai. Fui preso por um monte de soldados do exército, que me revistaram, ficando eu e meus alunos na mira de fuzis. Então chegou um cara do Rio de Janeiro e me disse gritando em voz alta: “Cadê essa tal de guavira, será que essa fruta é tão gostosa a ponto de vocês arriscarem a vida por ela?”. Nem me dei ao trabalho de responder, estávamos no meio do guaviral com cinco baldes de guavira e ele não percebeu”, conta Ismael Morel, professor de Amambai. 
FONTE: AMAMBAI NOTÍCIAS
www.amambainoticias.com.br/
(15) Comentários
boa tarde gostaria de fazer contato com pessoas interessadas em fazer troca de sementes entre regioes do brasil , moro no RJ e tenho interesse de trocar sementes de frutiferas da mata ATLANTICA por sementes de outras regioes pesqueirarui6@gmail.com


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